Mais que uma bebida, uma celebração ao encontro e o comungar com os fraternos, e até mesmo, com os diferentes...
No Rio Grande do Sul, somos criados, em grande parte, com o hábito, ou dito de outra forma, com o costume desde as idades mais tenras com a iniciação na tradição de sorver o chimarrão, ou como diria os portenhos – o mate.
O chimarrear é uma herança da cultura dos índios guaranis, hoje incorporada não apenas na tradição gaúcha, mas também, como um facilitador da sociabilidade e hospitalidade do povo gaúcho. O convite para compartilhar de uma roda de chimarrão representa a hospitalidade, a confiança, o dividir de da intimidade de quem recebe, assim como, uma ode à celebração da vida.
O Encontro Consigo e com o Comungar
O “Divã” na palma da mão...
O hábito e o apreço da comunhão do chimarrear têm o poder de dar asas aos pensamentos e as reflexões, assim como o sorver do mate trás para dentro o doce amargo do chimarrão, seja na companhia intimista de matear sozinho ou na companhia dos demais, este é um costume ou bebida que incita o pensar e o repensar, afinal o chimarrear trás você para dentro e para fora numa dialética do contemplar e do refletir, numa comunhão consigo, com o outro de nós e em grande medida, com a terceira pessoa e as terceiras pessoas...
O vivente se renova na rotina do chimarrear, pois o chimarrão é uma bebida estimulante, ajuda a ter mais energia, auxilia na recuperação do cansaço físico e mental, este tempo de “parada” para tomar o mate tem a magia de promover a reflexão, pensar a vida organizar ou até mesmo de promover e conhecer o outro e os outros desarmado pela intimidade do rito.
Na história da cultura gaúcha, sobre as rodas de chimarrão, existem alguns exemplos do início de algumas batalhas e guerras, mas também, dos armistícios e dos términos de guerras, este espaço de reflexão possibilita a manifestações das feras e a humanidade de cada um dentro de suas condições e constituições existenciais.
Neste contínuo movimento de voltar-se para si e para o outro nos propicia a expressão frente ao “espelho” de nós e do outro, que reflete as inquietações, afirmações ou refutações, o trazer a nós a cuia do chimarrão traz mais que o mate, esta, vem carregada de reflexões e celebrações, o matear possui estas magias em si, a magia introspectiva e a magia solidária com outro, seja de nós ou dos demais.
Dia 24 de abril (dia do chimarrão), para nós os Gaúchos, se repete quase que nos 365 dias do ano, afinal, o chimarrão está incorporado no hábito e nos costumes dos “Homens a Cavalos” (Gaúcho), até mesmo no hábito de chimarrear solito, não estamos sós, afinal esta companhia da cuia de chimarrão é a presença solidária da parte que nos conhece e a que nos revela, muitas vezes, o desconhecido conhecido que, em algum momento de nossas vidas, se fez necessária ser reprimida e até mesmo ser esquecida.
Portanto, o costume do chimarrão nos propicia este transportar sem sair do lugar, o divã do chimarrear (dar asa aos pensamentos e sentimentos) ou do tomar mate (apenas sorver a infusão) em alguma medida trás em si a magia, para nós os gaúchos, ir além das renúncias da autorreflexão.
O Instituto Ami deseja a todos a práxis de matear na melhor das companhias de vocês mesmos!
Carinhosamente, Sejam Felizes!
Cedaior da Silveira
Filósofo/Psicólogo/Psicanalista
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