Allah-la ô ô ô la ô ô ô – que Horror! É Carnaval, é?

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Então é Carnaval – que Alegria!
    Como é bom estar justificado..., afinal é Carnaval, é Folia, é Alegria, Não quero Pensar! Quero “beber todas” e não me preocupar com as contas a pagar, com a política, com a família que está dividida, o que o “outro” pensa de mim, com a relação que não mais excita, no sobrepeso que nos torna inseguros, ou dito de outra forma, não mais somos aquele que acredita que a juventude era eterna e que sempre acompanha os desejos, afinal, somos todos “Arlequins” da Comédia dell’arte, cuja função primeva – era divertir... 
   Lembrando Picasso, na materialização da imagem do Arlequim desde 1901e especialmente desde 1905, no período chamado rosa de forma indubitável, este, assume o caráter da Comédia del Arte, onde nos anos 30 como o Minotauro, tornou-se o “álter ego” do artista de Málaga. Os especialistas, comentaristas, de Picasso, sequiosos para eleger ou ler em arlequim uma testemunha da Comédia Humana, um iluminado tradutor que objetiva transgredir e transcender as limitações e as transvalorações do homem mundano.  
   No Brasil, o personagem, em questão, e no Nordeste, assume através dos blocos carnavalescos de rua, fundamentalmente, na Bahia e Pernambuco – passa a assumir o fenótipo típico e emblemático do bobo-da-corte, interessante...
   Nem só de pão vive o homem, vive por amor, afeto, para o autoconhecimento, superação, conhecimento, trocas, arte, trabalho, o lazer, diversão, mudanças, ..., em alguma medida, poderíamos dizer de forma, bem reduzida, para dar curso à sua subjetividade. Neste entendimento, chegamos ao Carnaval, a carne vale, sendo assim, o Carnaval é a cortina e o cenário perfeito e apropriado para às folias e ironias do personagem em questão – o Arlequim autoriza-se em não ter o comprometimento com a razão ou a razoabilidade das ações, apenas se outorga a dar curso as suas pulsões mais primárias.
   Tudo certo, estamos no Carnaval, mas o Carnaval 365 dias é demais!
    Sendo assim, não vamos ser sérios de mais, afinal, ser sério não significa apenas ser sério, pode ser discursivo, então, sejamos Arlequim, fantasia perfeita para respirar por alguns dias, os intermináveis 360 dias de bobo-da-corte. Apesar deste nebuloso estado, que nos embriaga em acreditar que somos “sérios” ou “patetas” na Suprema Corte Existencial contemporânea. 
    No paradigma existencial vivemos embricados no binômio da Pulsão de Vida e da Pulsão de Morte, ou seja, matamos para viver e morremos para viver, neste entendimento, matamos a razão para não morrer “sem” razão, em inúmeras vezes, se a lógica for a nossa fantasia, não suportamos a realidade, ao mesmo tempo que, se formos “irracionais” perderemos a condição humana, passando a assumir a condição de animais, então nada mais pertinente do que Valer a Carne, é a compensação, para alguns, é justo o lazer, nada a contestar, para outros um “feriadão” para relaxar, para alguns o torpor da condição humana, mas a realidade não pode e não deve ser negada, o que não pode e não deveria ser, é vivermos o Carnaval 365 dias do ano, a fantasia pesa, onde o torpor subtrai o horizonte reduzindo a esperança ao limite da soga (corda de couro usada para prender os animais), haja resiliência ou não resistência!  
    Na acepção do Latim, o significado de Carnaval assume a condição de carnis levale, que significa “retirar a carne”, ou seja, jejuar no período da quaresma, assim como, o controle dos prazeres mundanos, na perspectiva da cultura judaico-cristã. 
   Aqui podemos entender o não axioma (palavra que deriva do grego ascioma ou axios, cujo significado é digno ou válido, quando a transparência está borrada ou esfumaçada, a visão não é clara, logo, está comprometida ou transvalorada! 
   O Carnaval dura 05 dias ou 365 dias? 
   O Carnaval alegre se não fosse trágico/perverso, será que brincamos e nos divertimos, ou se damos curso as compensações e fugas, claro, evidentemente que muitas pessoas brincam e se divertem, assim como fazem retiros espirituais, mas em alguma medida, não de forma consciente, não estamos compensando em excesso as mitigações da indignidade impostas a todos nós?
   Allah-ô, ô ô ô ô atravessando o deserto de irrazoabilidade dos nossos dias, o não-sol está forte e queimou a dignidade democrática, Allah-ô, ô ô ô ô, mas que horror ô ô ô ô.
   Viemos do hospício caricato, onde muitas vezes de nada adianta rezar, Allah, Allah, Allah mande coerência para nós, meu bom Allah, mande Esperança para nós, mande Esperança, porque não vamos aguentar...
    Com a devida licença do Haroldo Lobo, compositor que criou esta Marcha/Carnaval, e com a mesma intenção irônica do Arlequim de Picasso, que possamos fazer a Valer a Vida sem atravessar o samba na avenida.
     Viver não merece ser Triste!

Carinhosamente,
Sejam Felizes!
Cedaior da Silveira

Autor. Cedaior da Silveira

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