A poesia e a loucura

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Diz-se que: “de poeta e louco todos nós temos um pouco.”, mas de onde vem a poesia, de onde vem a loucura, onde se situa a fonte destes sentimentos que de tão diferentes se permeiam. Em que profunda floresta, penhasco, desfiladeiro, regiões abissais de noites eternas, encontramos a origem daquilo que move, a energia, a pulsão a origem da inspiração ou da expiração da poesia e da loucura.
Será que, para termos lampejos de entendimento, não teríamos de mergulhar como escafandristas, nas águas profundas do inconsciente para encontrar o baú dentro do qual estariam guardadas as respostas? E abrindo, se conseguíssemos abrir, daríamos o valor real para as joias nele contidas? Mas para o poeta e o louco estas são divagações que não tem importância, eles simplesmente navegam nestes mares, se deixam levar pelas brisas ou tempestades, em suas naus dos insensatos, em busca da terra do nunca.

A bussola destes navegantes não tem um norte definido, a rota se faz a partir da imaginação e dos sentimentos, pois o objetivo não é o porto final, indefinido, incerto, e sim o navegar. É neste universo sensorial e intuitivo onde o imaginário e o real se permeiam que nossos atores vivem. Tem um trecho do poema Cântico Negro de José Régio que diz “- Não sei por onde vou, não sei para onde vou. Sei que não vou por aí!”, e, “Mas eu, que nunca principio nem acabo, nasci do amor que há entre Deus e o Diabo”. É nesse destino sem rumo, regido por uma dualidade sem culpas que navegam nossos atores.

A poesia não se faz com ideias, poesia se faz com palavras. Palavras atiradas na face imaculada da página em branco, palavras que vem das profundezas do inconsciente em uma linguagem simbólica, expressando um sentimento de dor, amor ou ressentimento que vão se justapondo em uma cadeia de significantes e conseguem expressar aquilo que não foi dito. É como se um outro falace ou escrevesse através da pena do poeta. Ao lermos uma poesia, quantas vezes vemos nossos sentimentos expressos, de forma tão clara, que é como se nós mesmos tivéssemos escrito, ou gostaríamos de ter. Esta magia da linguagem de inconsciente para inconsciente que transpassa tempo e espaço nos encanta e fascina. É a poesia.

A Poesia não é o mundo real, mas um outro mundo, inconsciente, subjetivo, único do ser humano, simbólico. A poesia, rompe com o status quo, deixando de servir apenas ao objetivo de representar a realidade, para expandi-la, transfigurá-la, transgredi-la. É cavar o solo dos sentimentos e emoções criando um poço imaginário sem paredes nem fundo, mas que ao lê-la, o leitor estabelece um vínculo. Traz para dentro da sua singularidade e vivencias, matiza e compreende a mensagem, a fala do autor. O outro se funde com o eu e surge um sentimento de que não estou só, se ameniza a estranheza e a solidão e surge uma cumplicidade em uma fusão de sentimentos.
A poesia é uma parte da alma do poeta que se desprendeu, deixou de lhe pertencer e sai vagando pelo infinito (inconsciente) em busca de alguém, que ao lê-la dirá: “Este sentimento é meu”. Sentimento que vem de um sou onde não penso se contrapondo ao do penso onde não sou. Mas estas reflexões são fruto da razão, já a poesia, bem, a poesia habita um mundo imaginário governado pelas musas gregas, estas ninfas surgidas da união entre Zeus e Mnemósine a deusa da lembrança, da memória. A poesia percorre estas estradas circundadas de mistérios e surpresas, onde, em cada nova curva do caminho, tudo pode acontecer pois afinal a poesia é algo humano demasiadamente humano.

Autor. Luiz Carlos Reis e Silva

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