NOSSOS ARTIGOS
Vivemos tempos desafiadores: pandemia, guerras, crise econômica... enfim, a humanidade encontra-se em um momento ímpar da sua história. Pertencemos a uma época de crescimento tecnológico geométrico e decrescimento cultural-social-moral exponencial.
Mas o que nos levou a este momento? Muitas serão as explicações, entretanto recaio sobre algo mais profundo, mais visceral ... Seria o Homem mau por natureza? Seria ele inerentemente injusto?
Primeiramente, teço uma explicação dos conceitos de Bom e Mau que utilizarei no texto. Parafraseio aqui Friedrich Nietzsche em sua obra prima, o anticristo: O que é Bom? – Tudo aquilo que aumenta a sensação de poder, a vontade de poder... no homem. O que é Mau? – Tudo que que brota da fraqueza.
A análise deste tema é deveras complexa para um texto de poucas páginas, logo serei objetivo e tratarei de explicitar minha tese em poucos parágrafos, antes que o leitor caia nos braços de Hipnos e seu filho Morfeu.
À medida que aprofundo meus estudos acerca do Homem e de suas contingências, seja no campo da Filosofia, Fisiologia ou mesmo da Psicanálise, deparo-me com uma questão complexa: Qual a Natureza do Homem? Seria o Homem mau por natureza?
Thomas Hobbes em seu clássico o Leviatã afirma “o Homem é o lobo do próprio Homem”, logo a natureza do Homem estaria determinada e assim ele não exerceria julgamento imparcial, haja visto que o Réu, o homem, é culpado por princípio. É sedutor chancelar esse pensamento nos tempos hodiernos, visto que a sociedade se encontra imersa em uma crise sanitária, econômica e social. Relegar o Ser Humano a sua animosidade antropológica é ser deveras simplista, assim com o fora a concepção de Hobbes, que analisa a natureza humana em uma perspectiva mecanicista: o homem é como uma máquina que age sozinha, ou seja, nega a presença etérea do Espírito e dos sentimentos.
Entretanto, Jean-Jacques Rousseau, menos de um século depois, contrapôs-se a esta teoria argumentando em sua obra O contrato Social que o Homem nasce bom, a sociedade que o corrompe. Rousseau valoriza o culto à natureza, a experiência individual, a importância dos sentimentos e das emoções, logo enxerga o Homem completo na sua dialética matéria – espírito e o reconhece enquanto Sujeito.
Mas o que é o Sujeito?
Desde René Descartes e Immanuel Kant, o Sujeito é definido como o próprio homem, enquanto fundamento de seus próprios pensamentos e atos. Na Filosofia ocidental, o Sujeito é entendido como o ser do conhecimento, do direito e da consciência. Freud e Lacan definem o Sujeito como dissociado do Eu, logo jogam seu olhar para o Inconsciente do indivíduo, determinando que as pulsões, e a eterna luta entre o desejo e a repressão sejam os pilares constituintes do Sujeito.
Atualmente, temos que o Sujeito deve ser parte integrante do Eu consciente, pois esse Homem, em sintonia com seu tempo e espaço, deve apropriar-se de si, de sua vida e de sua história, assumindo a capacidade de ser quem é e fazer o que faz, sem depositar ou cobrar do outro a responsabilidade por seu viver. Deve, ainda, conseguir se organizar e olhar o próximo respeitando singularidades, espaços, vivências, separando o que é seu do que é do outro e buscando tornar-se melhor e mais apto para a vida em comunidade.
É inexorável ao homem, que busca a luz do conhecimento na Filosofia e na Psicanálise, a ressignificação do Ser Humano como um ser social e gregário, assim como conclui o historiador holandês Rutger Bregman em seu livro, Humanidade – uma visão otimista do homem: “O homem foi programado para a bondade, voltado para a cooperação em vez da competição e mais inclinado a confiar ao invés de desconfiar uns dos outros. Na verdade, esse instinto tem uma base evolutiva que remonta ao início da história do Homo Sapiens. Éramos assim até descobrimos a agricultara, a propriedade e a competição.”
Agora, seguindo nossa tese, devemos compreender o que é a Justiça. Segundo o dicionário Michaelis: Justiça é o princípio moral e de valor que se invoca para dirimir a disputa entre as partes litigantes. Justiça, derivado de Justitia, de Justus, quer exprimir o que se faz conforme o Direito ou segundo as regras prescritas em Lei. Justiça é a faculdade de julgar segundo o Direito e a melhor consciência.
Para Platão e Aristóteles a Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu, ou seja, ser Justo.
No livro IV da República de Platão, define-se o Justo:
“... na realidade a Justiça é tal como a descrevíamos.... não, porém, no que se refere à ação exterior do homem, mas à interior, sobre si mesmo e as coisas, que nele existem, quando não permite que nenhuma delas faça o que é próprio das demais nem interfira nas atividades destas, mas, regulando devidamente os seus assuntos.”
Assim, para ser justo, devo aplicar a Justiça inicialmente a mim. Pesar meu coração frente a pena de avestruz, símbolo de Maat, deusa da Verdade. Não utilizando a balança parcial da cultura judaico-cristã, tão criticada por Nietzsche em sua obra, o Anticristo, mas utilizando a balança da Verdade do Tribunal de Osíris. Reconhecer minhas fraquezas, meus defeitos e vícios, não é diminuir-me frente à vida, mas sim mostrar a contingência e a fragilidade da minha humanidade na minha divindade, em última análise reconhecer o equilíbrio na dialética Matéria e Espírito. Reconhecer-me imperfeito faz minha caminhada justa e meu horizonte claro, pois sei o quanto devo aperfeiçoar-me e lapidar minha pedra Bruta para finalmente bem julgar, inicialmente a mim, e a posteriori o Outro.
Por fim, ao analisar tal tema por diversos ângulos, defronto-me novamente com a questão magna deste texto: qual a natureza do Homem? Encontro na Filosofia, Psicanálise e na História o arcabouço teórico-prático para fundamentar meus alicerces e concluir que o Homem é bom por natureza enquanto conseguir reconhecer a sua Subjetividade no meio em que se encontra e após isso conseguirá exercer a Justa medida, ou seja julgar, inicialmente a si, dentro das suas contingências de ser humano, sem a chaga judaico-cristã da nossa sociedade ocidental, mas sim com o olhar humano, demasiadamente humano, que nos confere a capacidade de Amar e de compreender o Ser Humano como um indivíduo completo, acima do bem e do mal, e acima de tudo Bondoso.
Porto Alegre, 20 de Fevereiro de 2023
Diego Fontoura Mendes Riveiro
Médico e psicanalista em formação
- PLATÃO. A REPÚBLICA. Nova Fronteira, 2018
- GEITENS, F. E. O QUE É O SUJEITO? O OLHAR DA PSICANÁLISE. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2017
- BREGMAN, R. HUMANIDADE – UMA HISTÓRIA OTIMISTA DO HOMEM. Ed Planeta do Brasil LTDA, SP 2021
- NIETZSCHE, F. O ANTICRISTO. Ed Nova Fronteira, RJ 1895
- NIETZSCHE, F. ALEM DO BEM E DO MAL. Ed Nova Fronteira, RJ 1886
- MARCONDES, D. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FISOLOFIA – DOS PRÉ-SOCRÁTICOS A WITTGENSTEIN. Ed Zahar, RJ 2007
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