05-03-2016

A Endemia da Renúncia Crítica

A melhor e a mais eficaz, e também, a mais usada fórmula de nada resolver e assegurar uma compreensão é radicalizar nas polaridades. Estamos imersos em um mundo dividido entre o socialismo e o capitalismo, entre os cristãos e os muçulmanos, entre o primeiro e o segundo mundo, ou ainda emergentes, entre o velho e o novo mundo, mas o que é novo e o que é velho?

O país não difere, também estamos cindidos, melhor dizendo, divididos entre os “petralhas” e os “coxinhas”, por cores clubísticas, pela geografia ou por afeições musicais entre o pagode e o sertanejo, etc. No âmbito familiar o fenômeno se repete, seja por a divisão de gerações, mais ou menos afortunados, ou ainda pela xenofobia sanguínea, na falta de um desses cria-se qualquer outro banal motivo para divisão, logo, rivalizar é preciso.

A razoabilidade, o bom senso ou o mais triste desta ditadura da inverdade é o que está estabelecido, onde a quantidade de repetição ou verborragia de uma fala proferida assume ares verossímeis, ou seja, o que é verdadeiro ou certo não mais é importante. Em nome da democracia das opiniões o desconhecimento e a má intenção estão outorgados, assim como a omissão, que é a maneira mais covarde ou renunciante de tomar posição, pois em nome de –“eu não vou entrar nesta briga desnecessária” dá-se voz e potência aos incautos ou aos mal intencionados. Sim, todos têm direito a darem suas opiniões desde que as sustentem com argumentos e fatos de veracidade, ou, no mínimo, de certa razoabilidade, o que demonstraria boa intenção.

Agora estamos como o “diabo gosta”, vivemos em uma “caixa de pandora”, pois assim como na mitologia grega, em que a primeira mulher criada por Zeus Pandora abre o jarro (caixa) de todos os males e os espalha pelo mundo – menos a esperança. Perdemos as referências de certo ou errado, onde os Negros não podem ser chamados de negro, os homossexuais são vítimas dos heterossexuais, todos os pobres são vagabundos e todos abastados são desonestos, são premissas que não chegam de forma saudável à conclusão, assim como todo nordestino é bom e vítima ao mesmo tempo, esta é uma síntese de premissas que não passou pelo exercício de silogismo.

A tirania da não criticidade facilita ou disponibiliza que alguns políticos façam uso do Direito para se manterem à margem da Lei, fazem uso de suas prerrogativas constitucionais para dar curso aos seus interesses pessoais e ferirem a Constituição; em nome do “amor” aos seus filhos Pais renunciam de suas funções, ou ainda, para garantirem suas carências afetivas tornam-se licenciosos na volição de retornos aparentementes de afetividade, criando nessa práxis cidadãos de vantagens. Como diria Jaques Lacan é o declínio do nome do Pai, as relações de autoridade sucumbiram as imposições das fraquezas, dos modismos e narcisismo patológico, não mais é importante os conteúdos, mas sim o simulacro de conteúdos ou veracidades.

Que fenômeno é este?

Seria este fenômeno tão somente fruto da má intenção, não creio e não concordo, pois os mesmos avanços que foram sendo conquistados a duros penares por sucessivas gerações, hoje, nem sempre são expressos de maneira consonante aos princípios que os moveram, uma vez que, em alguns casos são expressos como cortina de fumaça para interesses escusos ou distorcidos, e em outra perspectiva são postos em curso tão somente por suas baixas estimas, visto que confundem as causas (partidos, clubes, religiões, geografia, etc.) eleitas como a própria noção de sujeitos de suas vidas. Ou seja, a sujeição é confundida como sujeito, fenômeno esse, decorrido por não atribuição, assim assume-se a causa, bandeira ou eleição para dar sentido à própria falta de significado de suas vidas, claro que toda vida tem sentido, porém, nem todos conseguem compreendê-los.

Algumas vezes, o cego comprometimento com as bandeiras eleitas obstrui a capacidade crítica, pois a verdade já está dada com o momento de suas eleições, é como nas paixões clubistas, o torcedor fanático enxerga os lances de uma partida de futebol, por exemplo, comprometido apenas com a sua paixão, é compreensível, pois paixão deriva de phatos do grego, que significa: paixão, excesso, sofrimento, submeter-se, assujeitamento (apropriação de um discurso), assim a paixão torna-se o próprio discurso de vida. Nesta perspectiva, sujeitos sujeitados de múltiplas ordens, envidam suas vidas obliteradas por suas paixões, onde a renúncia inconsciente é o elemento norteador de suas aparentes escolhas, e, assim proporcionando no engodo de suas “eleições” o auto esvaziamento dos seus possíveis protagonismos.

O pensamento crítico requer radicalidade, não no sentido de intransigência, mas sim como desejo de conhecer a origem, seus fundamentos e os princípios norteadores, bem como, a qualidade de analisar por diferentes ângulos o mesmo evento. A criticidade, muitas vezes, é confundida com a intransigência ou com o espírito validador, que pode ser compreendido como a contumácia do ato de desqualificar tudo e a todos na compulsiva e obsessiva volição da autopromoção. O pensamento ou processo crítico é sempre libertário, no qual esse aponta para compreensão e a lucidez, e, não como reforço das próprias ideias, pois esse recai inclusive sobre o sujeito pensador, o não autoquestionar criticamente as próprias perspectivas, pode tornar o sujeito vítima das sujeições, sejam elas radicadas em terceiros, ou o mais comum, fruto das distorções patológicas.

A liberdade possível, não está em fazer tudo que se quer, ou como no pensar ingênuo, basta querer para poder realizar. A liberdade, penso, é uma conquista radicada na capacidade na compreensão saudável de “leitura de vida”, na transposição entre a adesão tácita e o depuramento do entendimento, ou seja, a criticidade não comprometida com “uma” resposta, mas sim com o entendimento frente ao questionamento, e fundamentalmente na autonomia possível de não objetivação de consonância com o privativo conhecimento, afinal, como apregoava Nietzsche – a Verdade nos move, enquanto que as convicções nos paralisam.

Salvo melhor compreensão e condição para exercer a liberdade crítica, este processo carece de um ego saudavelmente desenvolvido, no qual o processo consiste na ultrapassagem das próprias contingências. Nesta lógica, envido dizer que a renúncia da criticidade está afetada não somente a uma condição intelectual, mas sim, a constituição de um sujeito deslocado da saudabilidade de um ego não atribuído de estima, de um sujeito consistente e bem nutrido para olhar a vida sem o conforto do não confronto do que está posto, assim como, para superar as necessidades da ilusão de que “a constância da propriedade da verdade” é condição para ser aceito, ou dito de outra forma, amado.

Carinhosamente,
Sejas Feliz!
Cedaior da Silveira

autor
Autor. Instituto Ami
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